Início Bovinos de Corte Por dentro do cocho: Um inimigo invisível que pode comprometer seus resultados

Por dentro do cocho: Um inimigo invisível que pode comprometer seus resultados

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Fungos | Nutrição Animal - Agroceres Multimix

Fungos: O inimigo invisível.

Presentes praticamente em todos os ambientes de produção agrícola (solo, planta, grãos, animais, locais de armazenamento), os fungos podem ser considerados vilões do sistema de produção, afetando de forma indireta e silenciosa a eficiência produtiva dos bovinos de maneira geral.

Primeiramente, precisamos entender que a proliferação dos fungos acontece de maneira muito simples, sendo o ambiente ideal para seu desenvolvimento entre as temperaturas de 20ºC a 25ºC, ou seja, favorável durante quase todo o ano no centro-norte do Brasil. Somada  à temperatura, as altas taxas de umidade – do ambiente, ou até mesmo do próprio insumo – resultam em condições muito favoráveis para o desenvolvimento dos fungos.  Muitas vezes, o  mau armazenamento dos insumos, além de propiciar a proliferação dos fungos, também pode favorecer a liberação das micotoxinas, uma vez que, quando os fungos se deparam com mudanças em seu ambiente favorável, como por exemplo: quedas ou elevações de temperaturas (10ºC a 30ºC), como forma de defesa aquele estresse sofrido, o fungo libera sua toxina, causando a contaminação do alimento.

Os exemplos mais comuns são os silos de metais usados para o armazenamento de grãos que, muitas vezes, ficam expostos a temperaturas elevadas, sem métodos de aeração, podendo chegar a temperaturas que desencadeiam a liberação das micotoxinas. Os cuidados com a limpeza e desinfecção desses locais – ao final de um determinado lote de insumos para a entrada de outro – são de extrema importância para que não haja contaminação nos próximos insumos que ali serão armazenados. Eventuais resíduos que possam estar contaminados, passarão a contaminar o lote novo que poderia estar livre de contaminação.

As micotoxinas não são substâncias prejudiciais aos fungos, mas podem afetar os animais e os seres humanos que consumam alimentos contaminados. Vale ressaltar que a presença dos fungos nos alimentos não indica, necessariamente, a presença de micotoxinas, da mesma forma que a presença das micotoxinas, muitas vezes não apontam a presença dos fungos. Isso porque as toxinas são resistentes a tratamentos térmicos ou processos de desidratação que são suficientes para eliminar os fungos que as produziram.

As micotoxinas mais comuns encontradas nos insumos utilizados na produção animal, são: as Aflatoxinas (amendoim, milho, trigo, cevada, algodão e seus co-produtos), Desoxinivalenol (DON ou Vomitoxina) – (milho, soja, trigo e seus co-produtos), Zearalenona (milho, sorgo, soja e seus co-produtos) e Fumonisina (milho e seus co-produtos), que geralmente são produzidas por um grupo de espécies de fungos, tal como: Fusarium, Aspergillus, Penicillium e Claviceps (Bruerton, 2001; Dawson et al., 2001). Em recente levantamento realizado pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA – Colina),  nos cinco principais estados confinadores de bovinos do Brasil (Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo), foram analisados a presença de micotoxinas nas dietas trabalhadas, apontando que a fumonisina é a micotoxina mais frequente nas dietas analisadas (97%), seguida do ácido fusárico (80%), até então não reportado no Brasil, e a aflatoxina estando presente em 10% das amostras analisadas (Custódio et. al, 2017).

Atualmente, existem algumas legislações brasileiras que indicam o limite máximo de tolerância às micotoxinas. O órgão que define os valores toleráveis é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2011), no entanto, no que se refere aos ingredientes destinados à alimentação animal, existe apenas normas para algumas micotoxinas relacionadas ao milho, amendoim e seus co-produtos (tabela 1). Para os demais insumos, as legislações seguidas são as europeias e americanas (FDA, 1996) (tabela 1), que estabelecem limites máximos de tolerância também para milho, amendoim e seus co-produtos, e englobam todos os demais alimentos nos mesmos limites. Algumas universidades e centros de pesquisas estão em busca desses limites máximos para regulamentação dos demais alimentos, silagens e volumosos (tabela 2).

Tabela 1. Limites máximos de tolerância das micotoxinas para alimentos destinados a produção animal:

Alimentos

Aflatoxinas

Fumonisina

Zearalenona

Deoxinivalerol (DON)

Fontes

Milho e
co-produtos

20 μg / Kg

2500 μg / Kg

300 μg / Kg

(ANVISA, 2011)

 

60 mg / kg

3 mg / kg

12 mg / kg

(UNIÃO EUROPEIA, 2006)

Amendoim e
co-produtos

20 μg / Kg

(ANVISA, 2011)

(FDA, 1996)

Alimentos destinados à produção de bovinos

50 mg / kg

3 mg / kg

8 mg / kg

(UNIÃO EUROPEIA, 2006)

20 – 300 ppb

50 ppb

10 ppb

(FDA, 1996)


Tabela 2. Concentração de micotoxinas estabelecidos pela CPFOR/UFPR em silagens:

Micotoxinas1
Aflatoxina B1ZEADONOCRAFUM (B1 + B2)
Limiteμg / Kg (ppb)μg / Kg (ppb)μg / Kg (ppb)μg / Kg (ppb)μg / Kg (ppb)
Aceitável<19<285<929<5<1000
Crítico> 20> 286> 930> 6> 1000
1 Zearalenona (ZEA); Deoxinivalenol (DON); Ocratoxina (OCRA); Fumonisina (FUM).

Fonte: Novisnki e Schmidt, 2016.

 

Além do tradicional milho e amendoim, as micotoxinas podem estar presentes em diversos insumos, como: soja, algodão (e seus co-produtos), sorgo, polpa cítrica e também nas forragens conservadas. Normalmente, estuda-se mais o milho e amendoim, por serem alimentos encontrados em piores condições de armazenamento e, portanto, mais susceptíveis às infestações por fungos e contaminações por micotoxinas.  O amendoim e seus co-produtos são os mais susceptíveis devido à maior afinidade do fungo Aspergillus flavus, produzindo as aflatoxinas.

Devido a ampla quantidade de insumos utilizados na alimentação animal, e pela dificuldade de detecção da presença de micotoxinas, existe grande chance de contaminação e ingestão pelos animais, podendo levar a prejuízos e queda de desempenho. Na busca pelo baixo custo de produção, por vezes, o produtor pode optar por co-produtos mais “baratos”, que, se tiverem sido mal armazenados, podem conter altas cargas de toxinas.

Os bovinos são animais mais resistentes à ação das micotoxinas, quando comparado com aves e suínos que apresentam maior atuação no intestino delgado. Nos ruminantes, as micotoxinas podem sofrer ação dos microrganismos ruminais, diminuindo seu potencial de ação, entretanto, isso não significa que os bovinos estão imunes aos efeitos das micotoxinas, uma vez que, a capacidade patológica da toxina é dependente de sua concentração e classe.

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Os sintomas das micotoxinas podem ser facilmente confundidos com outros distúrbios. A ocorrência mais frequentemente observada é a queda de consumo de matéria seca dos animais, podendo resultar em quadros de morbidade, dando oportunidade para outros agentes infecciosos.

Nos sistemas de produção em que não são feitos o controle diário de consumo, muitas vezes, esse sintoma não é percebido, ou mesmo quando é controlado, a queda de consumo é associada a outros tipos de distúrbios metabólicos, como a acidose subclínica. Assim, não são tomadas as devidas precauções e os tratamentos adequados para micotoxicoses, que se estendem durante o ciclo produtivo, afetando o desempenho e aumentando significativamente os custos de produção e, por vezes, mascarando os resultados.

Como mostrado em pesquisa com animais na fase de terminação, nos cinco principais estados confinadores, os animais não apresentavam sintomas clínico quando expostos a dietas contaminadas, no entanto, tiveram dificuldade de ganhar peso e chegaram a perder 140 gramas de carcaça/dia, em virtude de micotoxicoses (Custódio et al, 2017).

Para pensarmos: um animal deixando de ganhar 140 gramas/dia, com um preço médio de arroba por R$ 140 (R$ 140/30 – 1@= R$4,70/kg de carcaça), o produtor deixaria de ganhar R$ 0,66/cab/dia (0,140 kg/dia * R$4,70/kg). Outra forma de pensar, seria considerar um ganho médio diário de 1,500 kg em animais com peso inicial de 400 kg, e meta de peso final de 550 kg (confinados durante 100 dias). Com uma diária alimentar de R$ 6,00, o custo total do período seria R$ 6,00/cabeça. Caso esses animais estivessem ingerindo alimentos contaminados com micotoxinas, o ganho médio diário seria 1,360 kg/ dia (1,500 kg/dia – 0,140 kg/dia). Assim, o tempo para atingir os mesmos 550 kg seria de 110 dias, ou seja 10 dias a mais, custando R$ 660/cabeça. Portanto, um acréscimo de R$ 60 por animal.

  • Abaixo estão descritas as pricipais micotoxinas e seus sintomas nos animais:

Aflatoxinas: afetam o crescimento dos animais, o ganho de peso, a reprodução, a capacidade produtiva e, ainda, podem ser letais, causando a perda de animais;

Desoxinivalenol (DON): náuseas, vômitos, diarreias, hemorragias, recusa de alimento, necrose da epiderme, redução do ganho de peso e da produção de leite, interferência no sistema imunológico e óbito;

Fumonisina: baixa produção de leite e imunossupressão;

Zearalenona: úberes aumentados, baixas taxas de concepção, menor ingestão de alimento, menor produção de leite, vaginite, aumento uterino, vulva e glândulas mamarias túrgida em novilhas virgens, declínio na taxa de ovulação e ciclos longos;

Micotoxinas na silagem: alteração da função ruminal, retenção de placentas, abortos.

Como citado, a maior parte dos alimentos utilizados na produção animal, estão sujeitos a contaminação por micotoxinas, ainda mais que muitos produtores não têm a produção da totalidade dos alimentos utilizados na alimentação animal e dependem da compra de terceiros, não podendo atuar na prevenção destas contaminações, seja pela compra de material já contaminado ou pela má condição de armazenamento na fazenda. Nesse sentido, se fez necessário buscar soluções para combater o desenvolvimento de toxinas e estabelecer níveis seguros de concentrações nos alimentos para a nutrição animal.

Devido a proporção que as contaminações podem tomar, a preocupação de muitos técnicos e produtores vem aumentando, e medidas para o monitoramento da presença de micotoxinas se fazem necessárias e convenientes em muitos casos. Entretanto, devido à grande quantidade de alimentos utilizados e tipos de micotoxinas, esse controle se torna bastante complicado e, geralmente, só observamos sua presença através dos sintomas apresentados pelos animais, ou seja, com todo o produto já em estoque, o que dificulta o controle dentro do sistema de produção.

Uma das maneiras de evitar os efeitos das micotoxinas é utilizar os adsorventes de toxinas nas formulações. Os adsorventes são moléculas inertes, com capacidade de se fixar à micotoxina, impedindo assim sua absorção.  São eliminados nas fezes, funcionando como uma esponja e adsorvendo as micotoxinas no trato gastrointestinal, prevenindo assim sua absorção e ação no organismo animal, evitando os prejuízos que poderiam ser causados pela sua ingestão. A ideia é que eles impeçam a absorção da toxina pelo trato gastrointestinal do animal, anulando seu efeito.

O uso de adsorventes tem mostrado excelentes resultados no controle de micotoxicoses a campo, sendo um “seguro” a ser pago à dieta. Frente aos potenciais problemas que podem ser originados pelas toxinas, o desembolso com o adsorvente é irrisório.

Os adsorventes ideais são aqueles que apresentam grande eficiencia em baixas inclusões; promovendo adsorção seletiva de micotoxinas para não interferir em outros nutrientes e componentes da mistura, estáveis no processamento da ração e no armazenamento; além disso, devem ser eficientes em diferentes valores de pH; possuir grande superfície específica e; apresentar fluidez adequada para mistura.

Certamente, a melhor forma de evitar a contaminação dos animais e seus produtos (carne, leite) é a prevenção, desde a colheita até os cuidados com o armazenamento. Devemos sempre ficar atentos aos sintomas apresentados pelos animais e ter um controle correto dos alimentos utilizados na nutrição. Um controle eficiente e a utilização de estratégias para prevenção de futuros problemas devem ser levados em consideração. Solicite um técnico para auxiliar nas tomadas de decisão, sempre levando em consideração a toxina que pode estar presente e o produto mais indicado para prevenção de qualquer problema decorrente da possível ingestão de alimentos contaminados.

 

Nutrição Animal – Agroceres Multimix.

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