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Geração agPastto: O que podemos aprender com a turma da lavoura?

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Como a Lavoura Pode Ajudar a Pecuária?

É possível tirar uma grande lição da turma da lavoura, embora seja fato que entre a pecuária e agricultura existam muitas diferenças,  a forma como os agricultores pensam e agem podem contribuir de maneira eficaz para a resolução dos problemas dos pecuaristas.  Quer saber como?  Continue nesse artigo e confira.

A intensificação da pecuária já é realidade nas diferentes regiões do Brasil, cada qual com sua especificidade, mas, independentemente do Estado, aumentar a produção e encurtar o tempo que o animal fica na propriedade é uma meta a ser seguida.

Nesse cenário, o pecuarista que não se adequar a essa nova realidade (muitos já estão vivendo o futuro, HOJE) com toda certeza, se ainda não saiu de cena, logo sairá. Grande parte desse grupo será formado por produtores que norteiam seu negócio, e tomam suas decisões, baseados em fatores externos à fazenda, como: preço de venda da arroba, preço da reposição, problemas políticos e/ou econômicos, entre outros. Esses elementos devem sempre ser acompanhados e discutidos, no intuito de aproveitar o melhor momento de cada ação – compra ou venda –, porém, como dificilmente podem ser alterados por ações isoladas, fatores externos não devem NUNCA definir os caminhos da fazenda.

Sendo assim, o dever do pecuarista é cuidar dos fatores porteira a dentro. Conhecer e gerenciar os números da fazenda, buscando tecnologias que agreguem em produtividade, são medidas que devem compor o dia a dia da fazenda. Nesse sentido, temos que o LUCRO pode ser influenciado pelo preço de venda e/ou pelo CUSTO DE PRODUÇÃO. Como já discutimos, controlar preço de venda não está ao nosso alcance, nos restando então pensar no custo de produção, que por sua vez é influenciado pelo preço de aquisição de insumos e pela produtividade. Nesse contexto, mais uma vez observamos que muitos miram no custo dos insumos, cortando importantes desembolsos na tentativa de abaixar o custo. O problema é que essa ação muitas vezes resulta na queda de desempenho, reduzindo receita e, consequentemente, o lucro. O que nos resta então é buscar ações que permitam aumentos de produtividade, o que pode envolver, por exemplo, desde aumentos de desembolso com aumento do nível de suplementação, até a simples ação de buscar melhorias no manejo de colheita da pastagem.

Artigo

Nesse contexto, temos bastante coisa para aprender com a turma da agricultura. Ações como: colheita no momento certo, consideração do resíduo para fazer um plantio direto, adubação programada, combate a pragas, entre outras, associadas ao conhecimento do custo de produção, permitem saber o que precisa ser colhido para pagar todo o investimento, dando previsibilidade e segurança à atividade.

Na agricultura, um único erro pode ser fatal e, nesse sentido, todas as ações do agricultor são programadas quase como as ações de um cirurgião, por isso o termo “agricultura de precisão” está cada vez mais em pauta. Para exemplificar: a ações já têm sido feitas com todas as operações monitoradas por GPS. Mede-se eficiência produtiva por talhão e por aí vai.

Mas, o que podemos tirar disso? Será possível trabalhar em um cenário de pecuária de precisão?

Na prática

Como Consultora Técnica de campo de uma empresa de nutrição animal, vejo pecuaristas querendo melhorar seus resultados, sedentos por adotar novas tecnologias, sendo uma das mais procuradas a suplementação a pasto. Já sabemos que, em muitos casos, quanto mais suplemento melhor. Mas a conversa não é tão simples assim, planejamento e gestão financeira devem estar muito bem alinhados desde o início do projeto.

Nas visitas técnicas, buscamos conhecer a fazenda e o sistema de produção como um todo e, na maioria das vezes, o diagnóstico é quase sempre o mesmo: pastagens degradadas e mal manejadas, e o pecuarista querendo algum produto milagroso para colocar no cocho para fazer o ganho de peso dos animais decolar.

Dessa forma, a nossa primeira recomendação é o cuidado com as pastagens, o que algumas vezes acaba frustrando alguns clientes. Ora, se o sistema de produção é baseado em pastagens e se estamos falando de animais ruminantes, porque nossos pecuaristas não conseguem olhar com mais “carinho” para o pasto? Não é à toa que muitos agricultores estão investindo forte na pecuária e obtendo muito sucesso.

Há poucos meses ouvi uma conversa entre um pecuarista, que planta milho e soja, e um agrônomo ligado a uma empresa de sementes (eles não tinham relação comercial, tratava-se apenas de uma conversa informal). Conversavam sobre a quantidade de sacas colhidas pelo pecuarista na safra passada, o que para ele havia sido ruim. O pensamento do agrônomo foi muito bom: para ele, a safra não foi ruim para o pecuarista, tudo depende do investimento que se faz, ou seja, se você investe para produzir 100-110 sacas, você vai colher (desde que o clima ajude); já se você investir para colher 70-80, é isso que terá.

Os agricultores definem o resultado que buscam (meta) antes mesmo de começarem a preparar a terra para plantar, pois assim conseguem se planejar financeiramente (estoque de insumos, entre outros), e ainda cuidam da lavoura durante todo o ciclo de produção para que a colheita ocorra no momento certo e da forma correta.

E você pecuarista, sabe quais são seus custos, sua produção? Quantas arrobas precisa colher ou quantos quilos o animal precisa ganhar em sua fazenda para pagar pelo menos o seu pasto? Quantas arrobas precisam ser produzidas para pagar um investimento em adubação?

Artigo

Para exercitar, vamos pensar em uma fazenda com 500 hectares de pastagens, com taxa de lotação de 1UA/ha, sendo o preço da arroba de R$ 140,00 e o custo do pasto R$ 25,00/cabeça/mês (R$ 300,00/cabeça/ano).

Nesse caso, fazendo um cálculo bem básico, concluímos que cada animal na fazenda precisa ganhar pelo menos 0,178 kg/dia durante o ano todo, ou seja, nesse caso deverá colher aproximadamente 2,2 @/ha/ano para pagar somente o custo do pasto. O mesmo pasto que fica 5, 10 anos, ou mais, sem receber nenhum investimento e aos poucos vai perdendo a qualidade o que reflete na queda de produção da fazenda.

Em uma realidade na qual não se sabe o quanto se produz no ano; e acreditando que muitos animais estão à mercê da própria sorte, podendo perder peso na seca e deixando de ganhar tudo o que poderiam nas águas, pela simples filosofia de que cuidar do pasto é caro, investir em tecnologia também; e que barato é largar o gado lá, sem nenhum cuidado, não se atentam ao fato de que o custo do pasto também está lá e que um aumento da produção ajudaria a diluir esse custo. E assim observamos cada vez mais pecuaristas amargando prejuízos ano após ano, porém atribuindo a culpa sempre a terceiros (frigoríficos, reposição, empresas de nutrição animal, e por aí vai).

Mas é claro que pecuária é pecuária, agricultura é agricultura e ambas possuem suas vantagens e desvantagens, facilidades e dificuldades, e as diferenças existem e devem ser consideradas. Uma diferença importante que devemos considerar é que o produto final do agricultor é soja, milho ou qualquer outra cultura. Já na pecuária, nosso produto final é o animal, por isso devemos entender e respeitar a interação entre planta e animal, sendo que, manejo do pasto vai muito além da simples produção de forragem.

Ao praticarmos a intensificação da pecuária, e como consequência adotarmos a adubação como uma das ferramentas, devemos considerar que estaremos aumentando a disponibilidade de forragem. Como precisamos colher essa cultura no momento certo, devemos investir em um aumento no número de máquinas, para realizar essa colheita de maneira eficiente, ou seja, precisaremos investir em mais animais para colocar na área adubada. Esse investimento em animais, muitas vezes, não é considerado pelo pecuarista, o que pode comprometer tanto a saúde financeira da atividade, quanto o manejo da pastagem.

Mas como citado no exemplo da conversa entre o pecuarista e o agrônomo, um maior investimento pode significar um aumento considerável na quantidade e qualidade do produto final. No caso da pecuária, podemos sair de ganhos de 500 gramas/cabeça/dia para 650/700 gramas/cabeça/dia ou sair de uma lotação de 1 UA/ha para 3 UA/ha, por exemplo, sem investimentos astronômicos.

Se considerarmos que a pecuária é uma atividade em que os riscos são mais controlados, além de termos opção de negociar ou segurar o animal na propriedade conforme as oportunidades, a intensificação do sistema pode se tornar tão lucrativa quanto a agricultura, ou até mais.

O importante é abolir um pensamento comum na pecuária: que ela aceita erros. Não, a pecuária não aceita, o que ocorre é que os resultados vão piorando em doses homeopáticas, um pouco a cada ano, e quando percebemos, o estrago é grande.

Usando um linguajar futebolístico – se me permitem -: cuidar do pasto como uma lavoura é como dizer “a base vem forte”. É importante cuidar da base (pasto). Quando cuidamos bem dela e damos boas oportunidades para se desenvolver, ela vem forte, e base forte ajuda demais um time.

Nutrição Animal – Agroceres Multimix

2 COMENTÁRIOS

  1. Parabens Simone Garcia. Excelente explanação. Mais clara e direta, impossível. Sempre estou interagindo com os diversos consultores da agroceres, em suas publicações. E ja ficando na expectativa do proximo conteudo. Continuo mantendo a minha posiçao que temos achar uma saida, para fazer chegar a maioria dos pecuaristas brasileiros, ideias tão simples e que se forem implantadas, a pecuaria brasileira, simplesmente será com certeza, a mais tecnificada do mundo. UTOPIA. Mas, quem não gosta de sonhar com o que há de melhor? Continuo afirmando que para os pequenos e medios pecuaristas, temos que voltar a desenvolver no brasil, a ASSISTENCIA TECNICA E EXTENSAO RURAL. num esforço das instituiçoes publicas e privadas, juntas. Na minha humilde avaliaçao, entendo que esse é o caminho para alcançarmos maiores e melhores produtividades. E afinal, poder afirmar com todas as letras que PECUARIA conduzida de forma profissional, E MAIS LUCRATIVA DO QUE LAVOURA DE GRAOS, Não tenho nenhuma dúvida disso. Muito obrigado.
    MOACIR GOMES de Sanrta Maria da Vitoria, Bahia-Brasil.

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