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Ação&Manejo: Como gerir dados em tempos de crise

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Capa do artigo sobre redução de custos na granja

Até que ponto contabilizamos o consumo de energia elétrica nos nossos aviários.

Historicamente, o Brasil destaca-se por absorver de forma rápida as novas tecnologias voltadas para o aumento da produtividade, em se tratando de produção de alimentos, desde a Revolução Verde que ocorreu no país entre as décadas de 1960 e 1970, até o cenário atual. Dentre as atividades agropecuárias com maior reflexo da adoção de novas tecnologias, a avicultura brasileira é exemplo de competência e virtude, sendo motivo de orgulho pra todos nós.

Os números do setor são realmente expressivos. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a produção de carne de frango atingiu seu maior valor desde a série histórica de 2011, mantendo o mesmo número de aves alojadas, ou seja, conseguimos produzir maior quantidade de carne sem aumentar a unidade de área.

O aumento da produtividade se deve ao esforço mutuo de áreas como: genética, nutrição, sanidade e ambiência, dando origem à uma ave mais precoce e produtiva (Macari, 1998), com alta taxa de deposição de carne e que pode alcançar até 80 vezes o seu peso ao nascimento, em um ciclo produtivo por volta dos 42 dias.

Apesar do contexto promissor, a avicultura vive dias de “regime”. A volatilidade cambial do dólar, a alta do preço dos combustíveis e o aumento do preço dos grãos está provocando uma forte crise, na qual os avicultores estão – em alguns casos – desistindo da atividade, o que é péssimo para o setor com maior PIB da economia.

Os aviários implantados no Brasil apresentam forte influência da indústria de equipamentos existentes nos países de clima temperado (USA e países da Europa) e esse fato, associado à pouca observância nas fases de planejamento e concepção arquitetônica, sem os ajustes necessários ao bioclima local, produz instalações que geram desconforto térmico nas aves e aumento da dependência energética. Segundo Pogi & Piedade Jr. (1991) o uso de energia elétrica em atividades ligadas à avicultura é imprescindível e torna-se cada vez mais necessária sua racionalização frente aos custos que vêm alcançando.

A primeira pergunta que devemos nos fazer é: estamos mensurando o custo de energia elétrica dentro dos nossos aviários? E, se estamos, será que é da forma correta? Na literatura, encontramos poucos trabalhos embasados nesse tema, pois talvez, na maioria das vezes, o principal foco seja na resposta da ave à nutrição, que é um componente oneroso no fechamento dos custos de produção.

Todo avicultor deve medir seus próprios consumos específicos e identificar os meios de otimizá-los, pois cada caso é único e altamente singular. O potencial para a melhoria de tais consumos específicos é, certamente, muito alto, levando-se em conta as grandes variações existentes entre granjas de diferentes tamanhos e de diferentes regiões.

Vale lembrar que: não existe uma “receita de bolo” ou “fórmula milagrosa” para sanar os problemas na produção de frangos de corte. A proposta aqui apresentada é uma reflexão dos pontos mais abrangentes em termos de equipamentos utilizados normalmente nas criações.

Sendo assim, iniciaremos nossa avaliação considerando que: nosso galpão de criação possui sistema de climatização, ou seja, utilizamos equipamentos para fornecer o conforto térmico às aves. Estudos mostram que o sistema de resfriamento adiabático evaporativo por ventilação negativa em galpões Dark House está entre os sistemas de climatização com melhores índices de desempenho.

Nesse sistema, a potência do sistema está abaixo do normatizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e apresenta melhor valor agregado (cerca de 35%) no que diz respeito ao consumo de energia elétrica específico por quilo de frango produzido (Bueno & Rossi, 2006). Porém, nesse tipo de instalação, ventiladores e lâmpadas consomem juntos cerca de 90% da energia ativa durante o período de inverno e cerca de 70% no verão, no entanto o tempo médio diário de funcionamento é maior no período de verão em um estudo feito por Turco et al. (2002).

1. Nosso foco aqui é exclusivamente reduzir os custos, por isso, vamos avaliar primeiro as fontes, nesse caso, qual o tipo de rede estamos utilizando para acionar os motores. Se a opção for os motores trifásicos, o produtor terá algumas vantagens, como: menor valor de aquisição (são mais baratos), menor tamanho, não exigem capacitores de partida e o mais importante, possuem menor consumo de energia (a transformação de energia elétrica em mecânica tem menos perda);

2. Visto a necessidade de racionalização da potência dos transformadores para se reduzir o custo global da eletrificação do galpão, utilize transformadores de pequena potência. Isso implica tanto na redução de custo de aquisição quanto na parcela dos custos relacionados às perdas elétricas. Empregar transformadores de pequena potência é uma alternativa viável, baseada em duas características importantes dos transformadores;

3. Sabemos também que um correto programa de luz garante a diminuição do canibalismo, gasto de energia das aves com movimentação, redução do custo com energia elétrica e promoção do bem-estar nas aves. Segundo Bona (2010), a intensidade de luz deve ser de 20 lux nos primeiros dias de vida e entre 5,0 e 10,0 lux posteriormente. Entretanto, para a redução dos custos com esse componente, é recomendado o uso de lâmpadas LED. Suas vantagens e desvantagens são:

VANTAGENS

DESVANTAGENS
Economia de até 70% de energia elétricaBaixa luminosidade (pelo menos alguns modelos iniciais)
Maior durabilidade (até 6x mais que a incandescente)Custo elevado (até 4x mais que a fluorescente)
Praticamente não liberam calorAlta emissão de radiação eletromagnética (aumentos dos casos de degeneração macular relacionada com a idade)
Resistência a impactos e vibrações
MulticoresDependência de componentes importados

Fonte: COTTA (2002); OSRAM (2007); LUXEON (2008); ARAÚJO (2014) e SCRIBD (2014).

4. O uso de painéis elétricos é fundamental para que a programação escolhida pelo avicultor seja real no galpão. Para não cometer erros, contrate um profissional habilitado. Os painéis são cruciais para evitar, pelo menos, dois problemas graves: alto consumo e quedas de energia inesperadas;

5. Em um estudo com a caracterização da lucratividade da atividade avícola por meio de indicadores de desempenho ligadas às instalações elétricas, Migliorini (2013) observou que em uma unidade de pesquisa de frangos de corte, com dimensões de 16x125m, climatização e automação dos equipamentos elétricos, destina 25% do seu faturamento mensal para o pagamento da energia elétrica; e mais 6,25% com gastos de manutenção dos equipamentos elétricos. Dentre os custos com manutenção, grande parte se destina aos cabeamentos. Como na maioria das instalações no Brasil, os aviários possuem em média 10-15 anos e, com isso, as instalações precisam de manutenção;

6. Outra opção é fazer a instalação dos ventiladores/exaustores associada a termostatos, para evitar o funcionamento dos mesmos por um tempo maior que o necessário. Os termostatos devem ser de acordo com a curva, para que, com pequenas variações de temperatura – para mais ou para menos – o sistema possa acionar rapidamente, mantendo a curva de temperatura e conforto térmico para as aves. De acordo com Turco et al. (2002) os sistemas de ventilação (positiva/negativa) representam em torno de 35% do custo de energia durante um ciclo de criação, nesse caso, é recomendado fazer a instalação dos termostatos na região central do galpão, a aproximadamente 50 cm do piso para o melhor controle desses sistemas;

7. Para sintetizar cada bloco de consumo em uma granja um lote, podemos obter os seguintes valores de consumo de energia, que quais pontos devemos levar em conta quando vamos fazer um projeto para dimensionar:

A imagem mostra um gráfico de distribuição do consumo de energia nos aviários, com um índice de sessenta e dois porcento em exaustores/ventiladores, onze porcento em aquecimento, nove porcento em sistemas de resfriamentos, seis porcento em geradores, cinco porcento em iluminação, sete porcento em outros tipos de consumo de energia nos aviários.
Fonte: CERATTO (2016).

 

8. Um aspecto estrutural que precisa de atenção é a cobertura dos nossos aviários. O uso de telhas de baixa reflexão e alta absorção (barro e fibrocimento) da radiação solar aumentam a temperatura interna da instalação e forçam os sistemas de climatização a trabalharem por mais tempo que o necessário, principalmente no período de verão e em zonas mais próximas à linha do equador no Brasil;

9. Em termos de modificações primárias (baixo custo de implantação), podemos aplicar a implantação de arvores no entorno das instalações. É a técnica mais barata e que auxilia muito no conforto térmico de uma granja eficiênciente. Silva & Nääs (1996) avaliando o microclima de um aviário, durante os meses de janeiro e fevereiro, verificaram uma redução de até 6% na temperatura interna de um galpão quando este era arborizado em seu redor. Além disso, essa redução da temperatura interna também contribui para a economia de energia elétrica. São muitas as opções de espécies com potencial de uso, o que vai determinar a escolha são fatores como: custo, melhor tipo de solo, tipo de folha, época de perda de folhas, entre outros. Alguns exemplos de árvores são:

A imagem mostra alguns tipos de arvores e seus tipos de solos, sendo eles: Pinus spp solos arenosos, Eucalyptus ssp regiões tropicais, Ulmus spp solos secos, Casuarina ssp zonas costeiras.
Fonte: EMBRAPA (2000).

10. Por fim não podemos deixar de falar em gestão. Quem não faz a correta gestão dos dados, geralmente toma as decisões precipitadas e acaba por diminuir suas margens de lucro. Ações como: padronização dos processos operacionais; treinamentos direcionados e especializados; adoção de indicadores que permitem uma visão ampla e real do andamento dos processos; registros e tratamento das ocorrências; integração entre colaboradores e o sistema de gestão; garantia de qualidade de processo e de produto, são elementos chaves para determinar o sucesso ou insucesso da produção avícola.

 

Nutrição Animal – Agroceres Multmix

*Coautora: Angélica Camargos, pesquisadora no Centro de Pesquisas da Agroceres Multimix.

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