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Streptococcus suis: Resistência bacteriana X Boas práticas de produção

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Streptococcus Suis | Nutrição Animal - Agroceres Multimix

Streptococcus suis:

Streptococcus Suis | Nutrição Animal - Agroceres Multimix
Streptococcus suis – bactéria coccus anaeróbico facultativo. Foto: Genome Portal

As infecções causadas por Streptococcus suis, são muito comuns em países onde a indústria de carne suína é desenvolvida. Essas infecções estão relacionadas a casos clínicos de broncopneumonia, meningite, artrite, pericardite, miocardite, poliserosite fibrinosa, septicemia, rinite e aborto. Além disso, essa bactéria também foi descrita como patógeno de ruminantes e humanos.

Segundo os pesquisadores: Keila J. R. Pagnani, Antonio F. Pestana Castro, Marcelo Gottschalk, Wanderley D. Silveira, Gerson Nakazato, 58,8% das cepas isoladas são do sorotipo 2; portanto, sendo o responsável pela maior incidência da doença.

Seu diagnóstico, no Brasil, ocorreu em 1980 e, atualmente, atinge de forma enzoótica a maioria das granjas tecnificadas. A sorotipagem somente ocorreu no ano de 2001, segundo descrito no site da ABCS (Associação Brasileira de Criadores de Suínos).

Relato de caso de campo

No caso a ser relatado, destacamos a preocupação com a resistência bacteriana observada e a importância da epidemiologia, para: a compreensão, prevenção e o controle da enfermidade.

A ocorrência observada foi em uma granja com cerca de 650 matrizes, a qual produz leitões de creche com, aproximadamente, 60 dias de idade, no meio oeste de Santa Catarina, em dezembro de 2017.

O caso em análise começou com o aumento da tosse, dificuldade respiratória (“batedeira”), sobretudo, na fase final de creche, com maior refugagem e mortalidade. O paradigma nas granjas é que a incidência do Streptococcus suis está relacionada somente aos casos de meningite (encefalite), porém é pouco relacionada a casos de pneumonia. Nos leitões necropsiados ao longo do período, observamos lesões de aderência pulmonar, presença de fibrina, e conteúdo purulento nas cavidades torácica e abdominal. Tais lesões e sintomas levaram à suspeita clínica do agente Haemophillus parasuis.

Foram coletadas amostras de pulmões, e encaminhas ao laboratório CEDISA (Centro de Diagnósticos de Sanidade Animal), anexo a EMBRAPA – CNPSA, de Concórdia – SC, para isolamento e antibiograma. Como suspeita clínica, foi indicado: Haemophillus parasuis, Actinobacillus pleuropneumoniae, e Pasteurella multocida.

Lesões macroscópicas observadas nas necropsias

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Aderência pulmonar.

 

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Conteúdo purulento na cavidade abdominal.

 

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Cavidade abdominal com Peritonite e cavidade torácica com Pericardite.

Os resultados demonstraram, além da Pasteurella multocida, a qual já estava sob suspeita, outros agentes como a Salmonella spp. e o Streptococcus suis. Posteriormente, foi discutido com a patologista do CEDISA sobre os resultados. Segundo ela, os isolamentos dos agentes ‘Pasteurella’ e da ‘Salmonella’ não eram importantes, pois foram isolados superficialmente. Já o isolamento do ‘Streptococcus’ foi profundo nos tecidos e isolado nas três amostras pesquisadas. Ela comentou ainda que as lesões observadas macroscopicamente nas necropsias são muito parecidas entre os três agentes: Pasteurella, Haemophillus e Streptococcus, e que somente através do laboratório é possível fazer a diferenciação.

O que chama muito a atenção nessa ocorrência é a alta resistência da cepa isolada de Streptococcus suis a antibióticos de eleição para Gram+, como a amoxicilina e a cefalexina. Esse fato é preocupante, tendo em vista que a amoxicilina é extremante utilizada nas granjas, sobretudo, para a prevenção das encefalites, causadas pelo agente. Mas, o ponto positivo foi a sensibilidade a antibióticos pouco utilizados para esse fim, como a norfloxacina e a lincomicina.

Após o diagnóstico realizado, o próximo passo foi entendermos a epidemiologia da doença. Um dos maiores limitantes da suinocultura é a indisponibilidade e a baixa qualidade da mão-de-obra envolvida na atividade. Cada vez mais, com a evolução genética, houve um crescimento expressivo da prolificidade, e assim, o aumento dos desafios, em função tanto da redução do peso ao nascer, quanto da desproporcional ingestão do colostro pelos leitões. Por isso, requer um maior comprometimento dos colaboradores envolvidos.

Primeiramente, a granja em questão é muito antiga e, consequentemente, existe maior infecção pela falta de vazio sanitário, agravada pela séria deficiência de mão-de-obra.

O que levou a um maior esclarecimento desse surto foi o questionamento do porquê em um mesmo ambiente de creche, em que todos os leitões foram desmamados numa mesma semana, uma parte deles tossiam, ao contrário do outro grupo restante. A resposta veio ao se constatar que esses diferentes grupos vinham de salas de maternidade diferentes, evidenciando-se, assim, a diferente qualidade de manejo aplicado aos leitões lactentes, o que proporciona possíveis portas de entrada para o Streptococcus.

Sabemos que os leitões nascem estéreis, haja vista que a placenta possui uma barreira natural contra agentes microbianos. Toda a contaminação, portanto, ocorre ao nascer, proporcional à infecção existente no ambiente e na própria fêmea recém-parida.

O manejo aplicado aos leitões lactentes – realizado comumente nas granjas – é fundamental para explicar a epidemiologia e a patogenia da doença, como: o desgaste ou corte dos dentes, o corte da cauda, da amarração do umbigo, da castração, da colocação de brincos, da marcação por tatuagem e/ou mossa nas orelhas, e outros. O manejo mal feito, com equipamentos inadequados e, sobretudo, a falta de higiene nesses procedimentos, podem ser a causa da maior ou menor infecção pelo Streptococcus suis, levando ao aumento das ocorrências de artrites, encefalites, e das pneumonias. Como no caso relatado, os sintomas surgiram na fase de creche, a tendência, portanto, é procurar a causa no ambiente local, todavia, os leitões são desmamados com um variado grau de infecção, oriundos da maternidade. Conforme os fatores predisponentes existentes, imunossupressores, como a contaminação por micotoxinas na ração, viroses (Circovírus e Influenza), a presença constante do Mycoplasma, e alterações bruscas no clima (comum na região sul), o agente manifesta-se em diferentes intensidades.

As medidas de controle sanitário visam minimizar a infecção do ambiente da granja, aprimorando as práticas de limpeza, desinfecção e vazio sanitário. Ainda assim, é fundamental o aperfeiçoamento das práticas de manejo com os leitões, a fim de garantir a manutenção e higienização dos equipamentos utilizados. Como exemplo de melhoria dessa situação, pode-se citar a troca do uso de alicates pelo desgaste dos dentes.

Muitas granjas deixaram de fazer os manejos, como: castração, desgaste dos dentes e amarração do umbigo. A não castração é benéfica, pois elimina uma das portas de entrada do agente. Já o não desgaste dos dentes também elimina uma porta de entrada, por outro lado, abrem-se outras tão importantes quanto, uma vez que os dentes íntegros e afiados causam lesões na boca e pele dos leitões, e no úbere das fêmeas lactantes. E a não amarração do umbigo, é uma porta direta de contaminação, além de aumentar a possibilidade de ocorrências de hérnias umbilicais.

Sendo assim, neste caso especificamente, foi utilizado – via ração – a amoxicilina, e outros antibióticos. Dessa forma, acreditamos que o controle não seria pela substituição das moléculas, ou aumento da dose, mas sim pela melhoria ambiental, e do manejo da granja. Esta conclusão foi compreendida e apoiada pelo proprietário, que solicitou um treinamento específico para esse fim com os funcionários da granja.

Nutrição Animal – Agroceres Multimix

2 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns pela excelente matéria, com visão prática, linguagem simples, clara e com uma visão holística e não focada no problema!!

  2. Excelente artigo, muito bom! Estes relatos de casos são muito importantes, tendo em vista que boa parte das granjas possuem essa característica de manejo deficiente.

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